quinta-feira, 13 de maio de 2010

A Primeira Guerra e a Champagne - O Refúgio nas Caves (les crayères)

Como eu já havia comentado no post anterior sobre a Champagne, durante a primeira guerra mundial a região foi extremamente devastada, os bombardeios alemães se concentraram muito nesta localidade, destruindo não só as cidades, os monumentos, como também parte dos vinhedos e das casas produtoras de champagne.
Por esta razão, em Reims, tudo o que havia antes na superfície foi deslocado para dentro das infindáveis caves das casas de champagne.
Nelas foram 'instaladas' escolas, igrejas, clínicas e cafés. Até a prefeitura se mudou para o subterrâneo, juntamente com a polícia e os bombeiros.
O mesmo ocorreu com o comércio: alfaiates, costureiras, sapateiros, açougueiros, padeiros e outras atividades instalaram lojas nas crayères.
As pessoas viveram por muito tempo neste mundo surreal (houve quem permaneceu até 2 anos), sombrio, movido à luz de velas e lampiões de querosene, onde, apesar de tudo, havia esperança, onde até os passarinhos ainda cantavam mesmo sem ver o sol (relatos descritos no livro "Champanhe").
Havia também concertos, cabarés, cinema e apresentações de teatro. Até artistas de outras regiões vinham se apresentar por considerarem uma honra atuar para os sobreviventes da região que viviam no subterrâneo.
Nao bastasse, a solidariedade com a região foi tanta que as visitas de personalidades, jornalistas, políticos, embaixadores estrangeiros e até do presidente francês se tornaram frequentes.
Dizem que em uma ocasião, nas adegas da Veuve Clicquot, foi oferecido até mesmo um jantar luxuoso, regado a caixas de champagne, especialmente para soldados feridos e mutilados.
Não achei fotos da cave da Veuve Clicquot, mas achei essa aqui que mostra uma mesa de jantar nas caves da Moët Chandon, apenas para ilustrar como se pode por um pouco de luxo na vida subterrânea, ainda que seja só para esquecer um pouco da selvageria da guerra:

Para finalizar, interessante mencionar que as caves/crayères não só serviram de refugio para muitos civis e soldados feridos, como também foram usados para que os soldados franceses se locomovessem por quilômetros até o front de batalha, sem se arriscarem na superfície.

Os túneis e galerias foram interligados e permitiam até mesmo o resgate de feridos de forma eficiente. Os soldados, às vezes, caminhavam 6, 7 km por dentro das caves para chegar ao front.

Algo realmente surreal!

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